Queda de estudantes inscritos no Enem na última década retrata redução de concluintes do Ensino Médio

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Queda de estudantes inscritos no Enem na última década retrata redução de concluintes do Ensino Médio

Especialista aponta que a desigualdade no acesso ao ensino superior aumenta no país e os números de inscritos ajudam a explicar esta situação.

O Enem é um modelo de seleção unificada para o ensino superior muito importante no Brasil, por diversos aspectos, principalmente para a redução das desigualdades no acesso ao ensino superior, uma vez que os  múltiplos vestibulares foram substituídos por um exame único. A população mais pobre e aquela que mora em localidades mais distantes pode reduzir os custos para realização de diversos exames, quer seja do ponto de vista do transporte, da alimentação e da isenção das taxas de pagamentos. 

Apesar desta característica importante do Enem, a desigualdade no acesso ao ensino superior vem aumentando no país e os números de inscritos no Enem ajudam a explicar esta situação. Para entender este fenômeno, é importante perceber que a queda de estudantes inscritos no Enem na última década possui duas origens diferentes e impactam a população de maneira distinta:  a redução do número de inscritos que não são concluintes do ensino médio e a redução dos inscritos que efetivamente concluem o ensino médio no ano do exame.

O quadro 1 apresenta dados retirados das sinopses estatísticas do Enem (2013 a 2021) e dos microdados do Enem (2022), ambos disponíveis no portal do INEP, retratam esta realidade. 

Na última década a redução de interesse pela inscrição no Enem foi muito mais acentuada entre os grupos de egressos do ensino médio dos anos anteriores e nos treineiros. Em números absolutos, em 2022, foram mais de 3 milhões de inscritos a menos nesta categoria do que na edição de 10 anos atrás (2013).

Segundo Rodrigo Bouyer, avaliador do INEP e sócio diretor da Brand U Consultoria Educacional e da Young, ressalta que “um fenômeno deste porte não tem, evidentemente, apenas um ou dois fatores que o determinam. Porém, o que observamos aqui na Young através do nosso atendimento personalizado, ao conversar com muitas destas pessoas, é que existem dois motivos que são mais proeminentes para explicar esta queda:  a redução da disponibilidade de novos contratos no Fies e a desesperança de ingresso nas universidades públicas” explica.

O Fies, financiamento estudantil realizado pelo Governo Federal que sempre selecionou os seus classificados por meio das notas do Enem, foi crescendo no país sobretudo a partir de 2010 e teve seu auge em 2014, quando chegou a ter cerca de 732 mil novos contratos assinados no Brasil (dados do FNDE). 

Para Bouyer foi neste período, que a população mais humilde passou a ter maior acesso ao ensino superior presencial privado, na medida que as mensalidades dos cursos eram financiadas com subsídios do Governo Federal. De igual forma, não apenas o acesso ao ensino superior para as classes sociais historicamente excluídas passou a ser possível, mas também o acesso às universidades privadas de maior prestígio;  às universidades privadas de maior investimento em qualidade e o acesso aos cursos com mensalidades tradicionalmente mais elevadas (destaque para Medicina, Medicina Veterinária e Odontologia), enfatiza o avaliador. 

Porém, a oferta de novos contratos do Fies foi sendo reduzida desde 2015 até culminar com apenas 45 mil contratos em 2021 (dados do FNDE), o que representa uma queda de oferta real de quase 94% do que era ofertado em 2014. Diante do exposto, fica claro um dos principais motivos para a queda muito acentuada deste perfil de inscritos no Enem. 

Quadro 2 

“O segundo motivo que percebemos ao conversar com os interessados em ensino superior aqui na Young é a desesperança de acesso ao ensino superior público de uma fatia importante da população, egressa de escola pública. Com condições precárias de estudo durante o ensino médio, uma parcela importante desta população, simplesmente sequer cogita a possibilidade de fazer o Enem, haja vista que o Fies se 7htornou um sonho inatingível e que ser aprovado em grande concorrência nas universidades públicas nunca foi uma meta realizável”, finaliza Rodrigo. 

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