Beata será canonizada em cerimônia no Vaticano, no dia 13 de outubro.
Conheça os relatos de baianos que viveram experiências pessoais com Irmã Dulce
Valquíria foi uma das últimas cuidadoras da freira e conta que cada cantinho no memorial traz lembranças do tempo que conviveu com a futura santa.
“Subi muito essas escadas, às vezes pegando ela, porque não tinha um elevador. Ela dizia: ‘Você vai me derrubar’. Eu dizia: ‘Não vou derrubar nada’. Eu levava e parava um pouco para respirar. Aí ela dizia que queria comer. Ela gostava muito de comer. Ela era levinha, qualquer pessoa poderia carregar ela. E eu carregava com tanto amor, com tanto carinho”, afirma.
No quarto da freira, Valquíria passa até mais tempo do que em casa. Chegava a ficar até 12h ao lado de Dulce. “Dificilmente eu venho aqui, porque quando eu venho eu choro o dia todo”.
Valquíria Cardoso se emocionou ao voltar ao quarto onde Irmã Dulce dormia e onde morreu — Foto: Reprodução/TV Bahia
“A essa hora ela já tinha almoçado, já tinha rezado o terço dela e estava descansando para, a partir das 16h, começar a atender o povo na porta. Foi muito gratificante trabalhar com Irmã Dulce. Mas estou feliz. Eu já sabia que ela era uma santa, mesmo antes de ser canonizada. Eu tinha certeza que ela era uma santa. Ela não negava nada a seus pobres. Ela dizia assim: ‘Se fosse para o seu filho, para sua mãe, seu irmão, você não faria? Então faça por meus pobres, não deixe meus pobres morrerem a míngua”, lembra.
Dos momentos mais marcantes, Valquíria lembra do dia em que Dulce morreu, no dia 13 de março de 1992, aos 77 anos, no Convento Santo Antônio.
“Na hora que ela começou a passar mal, Maria Rita [sobrinha de Irmã Dulce] ligou para mim. Eu estava em casa. Ela disse: ‘Venha. Irmã Dulce não está passando bem. Venha para cá’. Aí eu vim”, lembra.
Ela conta que ficou do lado de fora do quarto enquanto os médicos estavam com a freira e que foi Maria Rita quem deu a notícias para da morte. “Ela disse: ‘Nossa mãe já se foi’. Eu passei mal um pouquinho e depois me recuperei. Foi muito doloroso. Eu não esperava que ela fosse morrer tão cedo”, afirma.
A ex-enfermeira diz que “amor, carinho e dedicação” foram os grandes legados deixados por Dulce. “Isso porque sem amor, carinho e dedicação, você não é nada na vida. É preciso amar a Deus, primeiramente, os seus familiares e os demais. Obrigado, Irmã Dulce, por tudo que fez por mim e por esta nação”.
Os pedidos na escola
Professora Maria José Barreto diz que Irmã Dulce ia em sua escola pedir doações — Foto: Reprodução/TV Bahia
Quem também conviveu com Irmã Dulce foi Maria José Barreto, conhecida como pró Lia, que é dona de da Escola Santa Rita, localizada na Rua Monsenhor Basílio Pereira, no bairro Roma. A freira sempre ia na instituição de ensino pedir doações para os doentes.
“Na primeira vez, ela saltou da kombi e disse: ‘Rita, eu quero falar com você. Eu disse: ‘Meu nome não é Rita. Meu nome é Lia. Sou a pró Lia, da escola’. Ela disse: ‘Mas de hoje em diante vai ser Rita, já que o nome da sua escola é Santa Rita’. E continuou me chamando de Rita o tempo todo. Muitas vezes ela veio aqui”, lembra Lia.
A professora nasceu em Jacobina, no norte da Bahia, e, aos 20 anos, veio morar em Salvador e, junto com uma irmã, fundou a escola. O pai de Lia, comovido com as ações de Dulce, também ajudou a freira.
“Meu pai colocou uma padaria grande, um forno bonito e disse assim: ‘A primeira fornada que eu tirar dessa padaria será de Irmã Dulce, porque ela ajudou os pobres e eu preciso ajudar também porque o trabalho que estou fazendo está dando certo. Ele fez aquela fornada imensa de pão e colocou num carro para levar para Irmão Dulce. Quando ele chegou lá que entregou a ela, o pão saiu pequeno. E ele disse: ‘Eu já fiz, não vou jogar fora’. Ela disse assim: ‘O pão não está muito bom, não, mas eu vou ficar, porque vai dar para engrossar a sopa dos pobres'”.
Em um desses encontros com Irmã Dulce, Lia disse que a freira falou da obra grandiosa que queria construir, atualmente o Hospital Santo Antônio. “Ela chegou um dia aqui e disse: ‘Rita, nós temos que fazer alguma coisa para construir pelo menos um galpão, no hospital que estou tentando fazer, para meus pobres’. Eu disse: ‘Olhe, Irmã Dulce, é muito difícil, mas a gente vai construir'”, destaca.
“Me veio a ideia de criar uma procissão com crianças levando blocos, porque crianças com blocos na cabeça chamam atenção de qualquer pessoa. Fui pedir a cada mãe para ir com sua criança ajudando a segurar o bloco. O bloco tem que ir na cabeça do menino. Foi uma procissão muito bonita, muito engraçada e muito interessante. Todo mundo adorou, todo mundo saiu na porta para ver. Irmã Dulce saiu com lágrimas nos olhos. Ficou feliz da vida. E essa história dos blocos cresceu e começaram a chegar caminhões de blocos, carros de cimento. As firmas grandes começaram a doar e ela acabou construindo o hospital”, destaca Lia.
O exemplo de Irmã Dulce hoje é passado aos alunos da escola. “É o exemplo que eu passo para os meninos. Se todos seguirem o que Irmã Dulce seguiu, o mundo seria o paraíso”.
Maria José Barreto em foto ao lado de Irmã Dulce — Foto: Reprodução/TV Bahia
Fonte: G1