Imigrantes foram transferidos para dois abrigos temporários e praça Simón Bolívar, ocupada há sete meses, foi fechada neste domingo (6).
Mais de 200 militares e 100 civis retiraram 846 venezuelanos que estavam acampados na praça Simón Bolívar, em Boa Vista. A operação começou por volta das 5h (6h de Brasília) e foi encerrada às 14h40 deste domingo (6). Não houve tumulto.
Os imigrantes, que já tinham sido cadastrados, foram levados de ônibus para dois abrigos temporários na capital, ambos na zona Oeste. Há mais de um mês, a praça Simón Bolívar foi cercada com tapumes pela Prefeitura de Boa Vista.
Segundo o coronel Swami Fontes, assessor da Força Tarefa Logística e Humanitária, a operação já era planejada há dias, e ocorreu neste domingo porque o novo abrigo temporário Santa Tereza foi finalizado na noite de sábado (5).
Além dos 215 militares da Força Tarefa Logística Humanitária, participaram da ação 25 guardas civis municipais, além de servidores da Secretaria Municipal de Gestão Social e integrantes da ONU.
Os abrigos para onde os imigrantes foram levados são o Latife Salomão, unidade com 400 vagas aberta no dia 24 de abril, e o Santa Tereza, que tem 500 vagas, e começou a funcionar neste domingo.
“Todos que estão na praça Simón Bolívar foram abrigados nesses dois locais temporários porque eles têm capacidade suficiente para todas essas pessoas, são 900 vagas disponíveis “, afirmou o coronel.
No início da desocupação, os militares instalaram banheiros químicos e bebedouros no espaço cercado da Simón Bolívar. Depois, organizaram filas e começaram a esvaziar a praça. Os imigrantes foram avisados no sábado à noite acerca da retirada.
Antes do embarque, as bagagens e os pertecentes dos venezuelanos foram vistoriados e embalados em sacolas plásticas. O objetivo, segundo o Exército, foi evitar a entrada de drogas e armas nos abrigos. Três ônibus fizeram a transferência dos imigrantes. O trabalho foi custeado com os R$ 190 milhões liberados pelo governo federal ao Ministério da Defesa.
Até este domingo, a Simón Bolívar não tinha banheiros e nem água potável. Mesmo assim, era o principal ponto de aglomeração de venezuelanos recém-chegados a Boa Vista. O local começou a ser ocupado há cerca de sete meses e foi cercado com tapumes no dia 24 de março sob a justificativa de que será reformado pela Prefeitura.
A vida na praça era completamente improvisada. Os moradores se instalavam em barracas de camping, ou em estruturas de lona e madeira. Outros dormiam sobre papelões, e a situação se agravava ainda mais em razão da chegada do período chuvoso na capital. Para se alimentar, os venezuelanos faziam fogueiras e cozinhavam até mesmo em latas de tinta.
Quando esteve em Boa Vista, em fevereiro, o ministro da Defesa Raul Jugmann disse que a situação de quem vivia na praça ‘chocava muito’. No mesmo mês, o ministro dos Direitos Humanos Gustavo do Vale Rocha também esteve na Simón Bolívar e afirmou que os venezuelanos ali instalados “não tinham dignidade para viver”.
“A vida aqui era bem ruim, não tínhamos água, não tínhamos banheiro para fazer nossas necessidades. Acreditamos que nossa vida será melhor no abrigo”, afirmou o venezuelano Jesus Sifontes, que vivia desde fevereiro na praça, e era um dos coordenadores da ocupação.
Segundo ele, desde a noite de sábado a praça foi fechada para impedir a entrada de novos moradores e garantir que todos que já estavam lá conseguissem ser acomodados nos abrigos.
“Nossa última contagem indicou que tinham 940 pessoas aqui. A maioria dos estados venezuelanos de Anzoategui e Monáguas [ambos no Sul da Venezuela]”, detalhou.
No fim de abril, outra praça cercada com tapumes no Centro de Boa Vista também foi desocupada numa ação semelhante.
A venezuelana Carmen Freites, 51, foi uma das primeiras a deixar a Simón Bolívar. Ela saiu da cidade de El Tigre e chegou a Boa Vista no final de fevereiro depois de caminhar e pedir carona por dois dias – o G1 a acompanhou o percurso.
“Desde que cheguei estava vivendo na praça. Morar aqui não era bom, e só estava piorando por conta das chuvas que aumentam a cada dia. Estava tudo ficando alagado”, disse.
Enquanto os imigrantes se organizavam para sair da praça, outros venezuelanos que estavam do lado de fora aguardavam para tentar entrar na Simón Bolívar. Durante toda a ação, militares reforçavam a entrada da praça.
Alguns alegaram já ser moradores e outros disseram esperar vagas para também irem aos abrigos. Somentes alguns, no entanto, foram levados de lá, totalizando a entrada de 871 pessoas nos dois abrigos temporários.
Ao chegarem aos abrigos, os venezuelanos foram sendo cadastrados, vacinados e identificados.
No Latife Salomão, onde anteriomente estavam os 200 venezuelanos levados a São Paulo e Amazonas na sexta (4), ficaram famílias, casais, pessoas debilitadas e idosos. No Santa Tereza foram alojados os homens. Nos abrigos há beliches e barracas.
O casal Luis Coronado, de 48 anos, e Yusmary Josefina, 44, foi levado ao abrigo Latife Salomão. Eles disseram que agora tem esperança de ter uma vida melhor fora da Simón Bolívar.
“Na praça nós dormíamos em cima de papelão e plástico e na chuva tínhamos que correr para nos abrigarmos em barracas de outros venezuelanos. Cheguei a comer lixo, mas aqui tudo vai ser melhor”, disse Yusmary.
Com a abertura do novo abrigo temporário Santa Tereza, Boa Vista passa a ter oito abrigos para imigrantes venezuelanos, sendo seis permanentes e dois temporários.
Juntos os seis abrigos, eles têm mais de 3 mil pessoas e estão na capacidade máxima de lotação. Todos são administrados em parcerias com ONGs, ONU e Exército, e têm alimentação gratuita.
Depois de esvaziada, a Simón Bolívar passa por limpeza e será fechada para reforma. A Guarda Civil Municipal fará patrulhamento 24h por dia para impedir a entrada de novos moradores.
A prefeitura informou por meio de nota que a praça será revitalizada com jardinagem, pintura, manutenção e iluminação.
O município não informou, no entanto, quanto será gasto no serviço e nem quando ele será concluído e a praça reaberta.
Desde o final de 2015, o estado recebe um número crescente de imigrantes que fogem da crise política e humanitária vivida no regime de Nicolás Maduro. De 2015 a 2017 foram mais 19 mil pedidos de refúgio de venezuelanos em Roraima. A prefeitura da capital diz que 40 mil estão vivendo só em Boa Vista.