No início do século 20, o Reino Unido era a grande potência do mundo. Eram os britânicos que exerciam a maior influência sobre o globo, basicamente por possuírem a melhor economia em um vasto império colonial ao redor do planeta. Exatamente por esse motivo, a moeda oficial britânica, a Libra Estelina, era a referência quando se tratava de comércio global, além de ser a moeda mais antiga de todas as que ainda têm uso, com uma origem que data de até 1.200 anos atrás. A Libra era usada na maior parte das negociações internacionais no início do século passado. Mas nessa época os Estados Unidos já vinham crescendo bastante e tinha uma indústria forte que se beneficiou quando os aliados europeus precisaram de ajuda na Primeira e na Segunda Guerra Mundial. Durante esses dois períodos críticos, os Estados Unidos não só forneceram suprimentos e armamentos para seus aliados na Europa, como atuaram também na reconstrução dos países atingidos pelo conflito no pós-guerra, como foi o caso com o plano Marshall depois da Segunda Guerra. Fortaleceu muito a já avançada indústria norte-americana e fez com que o dólar rapidamente passasse a ocupar o lugar dominante da libra no cenário global. Outro ponto importante é que apesar de sair vitorioso nas duas guerras, o Reino Unido sofreu severamente com os conflitos, especialmente na Segunda Guerra, já que sofria bombardeios incessantes dos alemães e a guerra teve custos imensos. Isso significa que o país saiu enfraquecido desses eventos e, consequentemente, sua moeda Em julho de 1944 foi estabelecido o Acordo de Bretton Woods, um dos passos mais importantes na trajetória do dólar como moeda internacional, durante a Conferência Monetária e Financeira das Nações Unidas. O acordo envolveu todos os 44 países aliados, incluindo os Estados Unidos e o Brasil e estabeleceu que cada país deveria manter a taxa de câmbio de sua moeda ligada ao dólar. Enquanto isso, o valor do dólar seria baseado no ouro, de maneira fixa. Um dólar equivaleria a uma moeda. Uma quantidade específica de ouro, mais precisamente 35 dólares por onça, o chamado padrão ouro. Na época, a moeda do Brasil era o cruzeiro, e ficou estabelecido que um dólar valeria 18 cruzeiros e 50 centavos. O principal objetivo dessa medida era trazer estabilidade monetária para as nações, lastreando suas moedas a uma única moeda forte e estável. Para isso, o dólar foi escolhido. Além de que, a essa altura, os Estados Unidos detinham 75% do suprimento de ouro mundial, sendo o único país com ouro suficiente para sustentar esse sistema. Além disso, Bretton Woods foi a fundação do atual sistema financeiro mundial, já que também foi responsável por criar o Fundo Monetário Internacional, que assegura a estabilidade do sistema monetário internacional, e o Banco Mundial, cuja função era emprestar dinheiro a longo prazo para favorecer o desenvolvimento e a reconstrução das economias devastadas pela guerra. Foi assim que o dólar se tornou oficialmente a moeda de reserva internacional, ou seja, as reservas monetárias dos países começaram a ser acumuladas em dólares, ao invés de ouro como antes. O Brasil, por exemplo, em novembro de 2021 tinha uma quantia de quase 370 bilhões de dólares em suas reservas internacionais, de acordo com o site do Banco Central. Mas o acordo de Bretton Woods já não existe mais. Em 1971, o presidente americano Richard Nixon fez um anúncio que ficou conhecido como Nixon Shock, ou o choque de Nixon. O nome vem do verdadeiro choque com que foi recebido o anúncio de nixon de que os estados unidos iria deixar de usar o ouro como referência para o dólar acabando com a convertibilidade de dólares por ouro a preocupação do presidente nixon era de que as reservas de ouro americana se esgotassem já que muitos países estavam perdendo a confiança no dólar após uma sede especulações e os bancos dos bancos centrais estavam convertendo suas reservas de dólares em ouro como havia sido estabelecido no acordo de Bretton Woods então ele resolveu tornar o dólar uma moeda fiduciária ou seja uma moeda que não tem seu valor atrelado a algo tangível como ouro mas sim na confiança no governo oficialmente o ato não era o fim do acordo mas na prática era exatamente isso pouco tempo depois dessa medida o sistema Bretton Woods colapsou e os países passaram a adotar regimes de câmbio flutuante que são usados até hoje essa. A mudança também vem acompanhada de alguns episódios de desvalorização do dólar, o que chegou a levar a altos índices de inflação nos Estados Unidos dos anos 70 e 80. Mesmo assim, o dólar se manteve forte como a principal moeda internacional, e os países ainda mantiveram grandes quantidades da moeda em suas reservas, tanto que o dólar ainda é o campeão absoluto nas reservas pelo mundo. E mesmo o surgimento do euro em 99 foi capaz de tomar o lugar do dólar nos mercados internacionais. Isso se deve a uma série de fatores, como o fato de os Estados Unidos possuírem a maior economia do mundo e serem o país mais influente também. Mas os americanos também possuem uma grande vantagem sobre o sistema financeiro mundial. O FNI e o Banco Mundial são instituições fortemente influenciadas pelos americanos. Inclusive, as sede das duas organizações ficam lá mesmo nos Estados Unidos, em Washington, DC. Um estudo do Departamento de Ciências Políticas da Universidade da Carolina do Norte citou várias ocasiões. Onde o governo americano pressionou o FMI para agir de acordo com os seus interesses. Nos anos 80, os Estados Unidos pressionaram o FMI para conceder crédito para Argentina e para o México. Em 95, o governo Clinton também influenciou o fundo para oferecer assistência novamente para o México. Ou seja, na prática, os Estados Unidos parecem ter a palavra final sobre quem recebe ou não empréstimos do FMI. Outro instrumento de grande utilidade para os americanos é o SWIFT, o sistema que efetiva transferências internacionais entre boa parte das instituições financeiras do planeta. Em 2018, como forma de impor sanções econômicas ao IRAM por conta do seu programa nuclear, os Estados Unidos pressionaram o SWIFT para excluir os bancos iranianos do seu sistema. Nem é preciso dizer que todo esse jogo de poder também ajuda a manter o dólar numa posição de prestígio, já que é do interesse americano que a moeda continue sendo a base do comércio global. Mas economias em todo o mundo hoje estão cansadas de usá-las. Estados Unidos impor em seu poderio militar e financeiro aos demais, portanto, esforços estão em andamento para derrubar o dólar. Essa é a razão por trás da criação do Banco Brics e do Banco Asiático de investimento em infraestrutura. Então, existe interesse no fim da hegemonia do dólar, mas certamente não será uma tarefa simples. E aqui está o que a China está fazendo a respeito. Uma tarefa simples. E aqui está o que a China está fazendo a respeito.
Atualmente, dona da segunda maior economia do mundo e se aproximando de maneira rápida dos Estados Unidos, a China tem sido uma das protagonistas do crescimento econômico mundial. Enquanto economias do mundo inteiro sofreram com a crise causada pela pandemia de 2020, a China tem passado por uma das recuperações econômicas mais intensas desde então. No primeiro trimestre de 2021, a economia chinesa cresceu um percentual recorde de 18% em relação ao ano anterior, sendo o maior salto do PIB chinês desde 1992. Enquanto isso, os Estados Unidos demoraram para agir efetivamente contra a crise e têm enfrentado mais dificuldade que os chineses para colocar a economia nos trilhos novamente. Isso tudo coloca a China numa posição relativamente confortável para brigar com os Estados Unidos pelo domínio do sistema financeiro global, assim como outras disputas da chamada guerra comercial entre os dois países. Nessa guerra, a China tem lutado em muitas frentes sem medir esforços para se tornar a principal influência global e colocar o Iyuan no topo do mundo financeiro. Através de empréstimos bilionários, obras monumentais em outros países e controle de rotas comerciais vitais, a China tem aumentado seu poder de maneira veloz. A iniciativa Belt and Road, por exemplo, é um projeto de proporções colossais para criar um cinturão de rotas de comércio terrestres e marítimas ao longo de toda a Ásia e parte da Europa e da Oceania. O projeto também é conhecido como a Nova Rota da Seda, em referência a rota de comércio conhecida como Rota da Seda, usada durante a Antiguidade e a Idade Média. Mas a ambição dessa iniciativa é algo nunca visto antes e certamente se for concluída tem a capacidade de mudar o cenário do comércio mundial. Isso significa literalmente construir toda uma infraestrutura necessária para transportar mercadorias entre o continente asiático, a Oceania, a Europa. Europa e a África, e também construir ou reformar uma série de importantes portos ao longo desses locais, criando um corredor marítimo para facilitar o comércio com a China pelo mar. Muitos países já aderiram à iniciativa com muitas obras em andamento ou em fase avançada de execução. O que atrai esses países é que aparentemente eles podem acabar se beneficiando de várias maneiras das obras geradas pelo projeto. A própria construção da infraestrutura em si já é um enorme benefício para todo o país envolvido. Além disso, as obras do projeto são financiadas por bancos chineses que cedem empréstimos milionários aos países aderentes a juros baixíssimos, condições que esses países não encontrariam facilmente por aí. Por fim, ainda tem a questão do comércio, que seria intensificado e aqueceria o mercado do país por facilitar os negócios com outros países, por fazer parte dessas novas rotas comerciais. Mas o buraco é mais embaixo. A iniciativa Belt and Road tem servido a um propósito extremamente. Conveniente para a China, ao avancar seus interesses. Isso porque, por trás dos empréstimos amigáveis da iniciativa, pode existir uma armadilha, a armadilha da dívida. Muitos argumentam que a China tem uma segunda intenção a oferecer dinheiro aos países menores que aderem ao projeto. Muitos desses países não têm ou não terão condições de pagar sua dívida com os bancos chineses e o governo chinês sabe disso. Ao não conseguir pagar a dívida, o país pode ficar a mercê dos interesses da China, que vai oferecer outras formas de amenizar a dívida. O fato é que, quer o membro da iniciativa pagam na uns empréstimos, a China aumenta sua influência de uma forma ou de outra, o que é excelente para alavancar o uso do yuan em outros países, exatamente o que a China quer. Inclusive, parte dos empréstimos que a China concede na iniciativa Belt and Road são feitos em yuan. O governo chinês planeja aumentar a capacidade dos bancos chineses de realizar empréstimos para o exterior na moeda chinesa. A China também tomou frente para criar o RCEP, atualmente o maior acordo comercial em vigência no mundo, envolvendo 15 países da região do Pacífico, criando um bloco econômico que enloba mais da metade da população mundial. Esse acordo gigantesco não inclui os Estados Unidos e fortalece a influência chinesa sobre economias importantíssimas daquela região, como o Japão, a Austrália e a Nova Zelândia. Outra frente muito importante da estratégia para impulsionar o yuan globalmente é a tecnológica. A China tem buscado ser pioneira em vários avanços no mundo da tecnologia financeira, com destaque para a introdução do yuan digital. O governo chinês investiu para criar uma versão digital da sua moeda que usa a tecnologia de blockchain, a mesma usada em criptomoedas como bitcoin e ethereum. Segundo o Banco Popular da China, o yuan digital já tem 140 milhões de usuários. Usuários ativos, e a moeda já movimentou o equivalente a quase 10 bilhões de dólares. O governo chinês tem buscado formas de incentivar o uso da moeda pelos chineses. Uma delas é a distribuição de valores em UoDigital para que os cidadãos usem coisas como alimentos, transporte, serviços e varejo. Mesmo ainda estando em fase de testes, mais de um milhão e meio de estabelecimentos já aceitam a versão digital. Isso significa que o UoDigital é o projeto mais avançado do mundo de uma moeda digital de um banco central, o que deixa a China na vanguarda desse tipo de novidade monetária. Tudo isso tem rendido frutos e ajudado a elevar o UoChinese no cenário mundial. Mas será que é o suficiente para desbancar o dólar?
Em 2015, o Fundo Monetário Internacional concedeu ao IUAM o status de moeda de reserva, um importante passo para se tornar uma moeda internacional. Isso aconteceu porque com a intensificação do comércio mundial com a China, especialmente na década de 2010, a moeda chinesa chegou a ser a quarta moeda mais usada no mundo. Uma pesquisa indicou que a moeda chinesa tem tido um desempenho melhor que a moeda americana em 2021, tendo crescido mais de 8% e ganhado força em relação ao dólar. Isso abre caminho para que outros países comecem a acumular reservas em IUAM, como já fazem com o dólar, euro, libra e o ien, por exemplo. Caso o IUAM seja uma moeda de reserva de sucesso, a China fica muito mais próxima de ter uma moeda internacional. Mas por que exatamente seria ótimo para a China? Podemos citar alguns benefícios. Primeiro é que a China precisaria se preocupar muito menos com o preço do dólar nos seus negócios internacionais, que hoje ainda são majoritariamente efetuados em dólares. Além disso, os bancos BRICS e AIIB poderiam simplesmente aumentar a sua influência sobre os países, reduzindo a influência do FMI e dos Estados Unidos nos assuntos mundiais. As reformas econômicas do governo chinês teriam uma força muito maior, e principalmente, a China teria um poder muito maior de encarar os Estados Unidos na guerra comercial. Mas é preciso falar que o caminho ainda é longo. Segundo dados do FMI, no segundo trimestre de 2021, as reservas internacionais ao redor do mundo acumulavam um valor equivalente a 310 bilhões de dólares em IUA, enquanto o total de dólares acumulados é imensamente superior, ficando na casa dos 7 trilhões. Já o site do Banco Central do Brasil diz que nossas reservas de moedas estrangeiras possuem dólar euro-libra e ele dólar canadense e dólar australiano. Ou seja, mesmo o Brasil, que tem a China como seu maior parceiro comercial, ainda não acumula imãs nas suas reservas internacionais. Reservas. Economistas entendem que para o Yuan conseguir superar o dólar como moeda internacional, um determinado conjunto de fatores teria que acontecer. Os bancos centrais de todo o mundo teriam que acumular um valor total em Yuan equivalente a pelo menos 700 bilhões de dólares, mais do que o dobro do que existe hoje. O banco central chinês também precisaria diminuir a dependência da própria moeda do dólar e o Yuan precisaria conquistar a reputação de moeda estável, como a moeda americana. Mas ainda tem algumas condições que parecem um pouco mais difíceis de acontecer. O mercado financeiro chinês precisaria ser transparente, as políticas monetárias de Xi Jinping teriam que passar a ser consideradas estáveis e o banco central chinês precisaria ser claro sobre suas intenções futuras com o Yuan, o que parece bastante improvável. Nada disso acontece hoje e não há nada de que o governo chinês tem qualquer intenção de ser mais transparente em suas políticas, nem com sua própria população. Existe transparência, quanto mais com outros países. Então, a confiança do mercado internacional do yuan pode ficar bastante limitada. O dólar vai eventualmente acabar, seja daqui a 10, 100 ou 1000 anos. A história nos ensinou isso. Grandes civilizações dominaram o mundo durante toda a história e, por mais vastos que tenham sido seus impérios, todas ruíram e suas moedas colapsaram junto. Isso quer dizer que eventualmente o dólar vai dar lugar a uma nova moeda. Não é uma questão de ser, mas de quanto tempo a moeda americana vai aguentar ficar no topo, até inevitavelmente cair. Mas, enquanto tudo isso acontece, as criptomoedas vêm ganhando força. Tem uma coisa que o passado nos mostrou, é que não dá pra confiar em governo nenhum, nem no americano, nem no brasileiro, muito menos nos chinas. E se não podemos confiar nos governos, por que confiamos na moeda deles? Ao contrário do que a maioria possa pensar, o poder do governo de criar moeda sem dar satisfação a ninguém só começou há poucas décadas, o que dá ao governo a capacidade de imprimir mais e mais, fazendo com que o seu dinheiro guardado ou o meu dinheiro simplesmente perca valor, para que ele continue podendo expandir como sempre fez. Na prática, a inflação se torna um imposto invisível, e talvez o mais nefasto de todos os impostos, porque ele tira seu poder de compra sem que você nem saiba, enquanto governos silenciosamente criam mais dinheiro. Foi exatamente por isso que o bitcoin surgiu depois da crise de 2008 e é por isso que a cada nova crise seus valores sobem, ao mesmo tempo que mais pessoas preferem ela. Como reserva financeira e passam a aceitar criptos como forma de pagamento. Então talvez a moeda que venha superar o dólar não seja a chinesa no fim das contas. Mesmo com a China crescendo sua influência e sua moeda sendo mais ousada, o simples fato das criptomoedas resistirem já nos protegem por ser nenhuma alternativa, mesmo que pra maioria ainda seja algo pouco conhecido.