A partir desta segunda-feira, dia 13 de janeiro, fãs de cinema mudo e improvisação artística poderão conhecer o Projeto Reverbera, no YouTube. No canal, o projeto premiado pela Lei Paulo Gustavo disponibilizará alguns de seus trabalhos com legenda descritiva para acessibilidade de deficientes visuais que poderão ser acessados pelo https://www.youtube.com/@Reverbera.imagina.
Para quem ainda não conhece, o Reverbera! é um projeto de extensão da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), como um laboratório de produção audiovisual para web, que trabalha com improvisação livre sobre vídeos. Por meio de sons vocalizados, chocalhos, guitarra, percussões, teclados entre outros instrumentos, o Reverbera!, propõe a imersão e experiências, que vão de estranhamento a alegria, medo a liberdade, com uma sonoridade bastante dinâmica. Essa mistura de sons eletrônicos e tradicionais, aliados à base musical, utilizando ferramentas de software com reuso de samples processados e editados em tempo real criam uma atmosfera sonora, sobre a qual o grupo improvisa coletivamente.
Desde o final de novembro, o projeto passou para uma nova fase de produção, utilizando material audiovisual próprio e inédito que será incorporado às suas apresentações. Com uma coleção de cerca de 200 vídeos de cerca de 15 segundos, que tem o estereótipo de vídeo-arte, o objetivo deste material é de apresentar cenas do cotidiano para musicá-las ao vivo e os ensaios para as apresentações já contam com elas.
Clássicos
Na primeira fase do projeto, filmes clássicos do cinema mudo foram utilizados como partituras visuais para as apresentações e difundidos para os mais diversos públicos, dando asas à arte e à imaginação. A coordenadora do Reverbera, Ariane Stolfi, detalha como foi a concepção do projeto e o porquê da escolha dos filmes. O projeto começou quando Ariane se tornou docente das aulas de oficina de prática em criação sonora. A professora sugeriu aos alunos fazer uma prática de improvisação com filmes do cinema mudo.
“Então, a professora Juliana Gontijo, que ela fazia parte do Imagina, um projeto de extensão de circulação audiovisual, propôs apresentações ao público. Ela também ajudou a batizar o nome Reverbera, que se tornou também projeto de extensão e hoje é autônomo, fora dos componentes curriculares”, completou.
Ideia
O trabalho com filmes mudos, de acordo com a professora, se deu principalmente por causa da questão de direitos autorais, que muitas vezes são complicadas. “Já tínhamos essa ideia de produzir nosso próprio material, e que fosse uma coisa mais atual, contemporânea. Com a aprovação do recurso na Lei Paulo Gustavo Bahia contratamos alguns cineastas para fazer as imagens. Elas não seguem um roteiro, mas delineiam o cotidiano que se intercadeia, de uma maneira diferente, para que nós também tenhamos surpresa ao tocar”, explica.
Os cineastas que fazem parte do projeto são Davidson Chioke e Gabrielle Gerola, alunos do curso de Som, Imagem e Movimento; Eric Vinícius, aluno do Bacharelado Interdisciplinar em Artes da UFSB; e da cineasta Júlia Rangel, tendo a direção de Ariane.
“A produção é coletiva. Nos vídeos, também retratamos os dançarinos Camila Mogul e Robson Nunes, estrelas de um espetáculo que fala sobre o silêncio. As narrativas visuais dos vídeos são compostas por imagens de paisagens, texturas, espaços públicos, objetos e pessoas. São recortes variados, mas sempre envolvendo o movimento como ponto fundamental”, revela a coordenadora do Projeto.
Inovador
Ariane comenta que é muito gratificante trazer esse projeto inovador para Porto Seguro. “Fiz parte da Orquestra Errante, um grupo de improvisação livre existente na Universidade de São Paulo (USF) e coordenado pelo professor, compositor, performer e pesquisador Rogério Costa. Adaptei o projeto, já que muitos participantes chegam sem experiência em sonora, em prática musical e vão se desenvolvendo com o tempo. Eu gosto muito de fazer improvisação musical, e agora temos nosso próprio grupo para praticar isso”, salienta.
A próxima apresentação ao vivo será no Centro de Cultura de Porto Seguro, no dia 15 de fevereiro, às 20h. Para adquirir a entrada para o espetáculo, que será gratuito, basta retirar os ingressos meia hora antes da apresentação, na bilheteria do local.
O Reverbera! é um projeto contemplado pelos Editais da Paulo Gustavo Bahia e tem apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura via Lei Paulo Gustavo, direcionada pelo Ministério da Cultura, Governo Federal. Paulo Gustavo Bahia (PGBA) foi criada para a efetivação das ações emergenciais de apoio ao setor cultural, visando cumprir a Lei Complementar nº 195, de 8 de julho de 2022. O projeto também tem apoio da Universidade Federal do Sul da Bahia.
BOX: Quem Faz o Reverbera?
O Reverbera é feito a muitas mãos – e vozes – e para que o espetáculo seja sentido de forma intensa, o grupo conta com estudantes dos cursos da UFSB e profissionais da música, com coordenação da Professora e Doutora em Música Ariane Stolfi.
“Como todos, eu também participo. Já toquei ‘computador’, mas hoje toco percussão e sopro, além de fazer improvisação vocal. O mais legal é a prática mesmo, é o tocar, a apresentação, porque é quando a gente mostra para o público de fora. Cada ensaio é diferente, e uma experiência sempre única. E essa oportunidade de ter um grupo que está interessado e gosta, acompanha, e se dedica é maravilhoso”.
Ariane de Sousa Stolfi, 43 anos, Doutora em Música, Diretora e Coordenadora do Projeto Reverbera
“Nos meus 25 anos de carreira na música essa é a experiência mais inovadora, mais interessante que eu tive a oportunidade de participar. Porque dentro da música experimental dá pra buscar e atingir sonoridades que na música popular não há espaço. As apresentações são surpresas tanto para o público como para nós, pois se trata de uma experiência imersiva e o sentimento do momento muda. Acho incrível os ensaios, a produção e a maneira como o projeto é inclusivo. Temos estudantes aprendendo instrumentos e músicos formados experimentando novos. É tentar tirar dali a sonoridade de forma coletiva. Estar ao lado dessa ‘garotada é uma fonte da juventude e inspiração para mim”.
Caio Vandré, 39 anos, Diretor Executivo do projeto e produtor musical
“O Reverbera está sendo uma experiência interessante porque eu sou músico e estudei piano e violão, mas aqui toco guitarra. Dentro do Projeto há a possibilidade de pensar nas composições de trilhas sonoras e edição de imagens e acaba propondo um conhecimento que se integra às matérias do curso. Isso nos propõe mais conhecimento técnico, poético sobre o som e as imagens. A professora Ariane é uma pessoa que tem um conhecimento técnico e teórico muito profundo em relação à edição de imagens e som, e acaba nos propondo essa satisfação de compreender o que nós estamos estudando, com mais profundidade e também nos une, pois o som depende de todos”.
Júlio César Pereira Carvalho, 56 anos, estudante de Som, Imagem e Movimento
“É uma experiência interessante. Eu sou músico há um tempo, só que eu nunca tinha experimentado tocar em grupo, muito menos da forma como a gente toca. O projeto não segue um padrão rítmico ou harmônico. É experiência de se ouvir e propor ideias novas enquanto assiste filmes e faz trilhas sonoras ao vivo. Não temos um roteiro pronto e mesmo com uma ideia pré-elaborada, sempre coisas novas vão surgindo. A parte que mais gosto é escolher o filme, e entender a sonoridade que queremos alcançar. Nas apresentações também é bem legal entender como a ideia é percebida pelas pessoas que assistem. A sonoridade experimental é uma coisa que não existe na região”.
Gustavo Santos, 23 anos, estudante de BIArtes UFSB
“No Reverbera toco instrumentos de percussão, sopro e não convencionais, além de improvisação vocal. Faço parte do Reverbera há bastante tempo e acompanho o projeto desde quando antes do Projeto de Extensão. Me sinto privilegiada em participar do projeto, e para me dedicar, no dia dos ensaios optei por não pegar nenhum componente curricular para dedicar o tempo ao projeto. Aqui é um lugar onde eu posso fazer música à vontade, que eu posso me expressar. Fazer parte de uma banda tão incrível, com músicos incríveis, experimentar sons. Decidi que quero me especializar em produção sonora também”.
Gabrielle da Conceição Gerola, 26 anos, bacharelanda em Som, Imagem e Movimento
“Sou o tecladista do Reverbera e acho que é um lugar muito bom para você expressar sua musicalidade, sua identidade musical, e também se descontrair, sair um pouco da rotina e correria que é a universidade e o trabalho. É um momento que a gente desfruta do tempo livre fazendo algo que a gente gosta. Gosto muito das apresentações, e de ver a performance e o resultado final de tudo isso que a gente vem trabalhando para apresentar ao público. Ver tudo se encaixando e fluindo bem, é um momento bem prazeroso”.
Lucca Fregni Lima, 25 anos, estudante de Bacharelado Interdisciplinar de Artes
“Já toquei violão, mas agora estou no computador, utilizando o site PlaySound Space, desenvolvido pela professora Ariane e no manejo de samples do FreeSound. Com essas duas ferramentas podemos manipular samples, modificando a afinação e modulando, além da DAW, uma Estação de Áudio Digital, para inserir instrumentos virtuais também. Gosto muito da proposta do Reverbera para a improvisação e expressão livre. É uma ‘terapia sonora’, onde você desabafa, e te dá a possibilidade de agir livremente, e fazer sons que poderiam ser esquisitos em outros ambientes. É uma forma de relaxar também e me considero privilegiado. Temos muitas trocas interessantes, o exercício de escuta, o de prestar atenção no que o outro está fazendo para tocar também, O Reverbera é interação, novidade, aleatoriedade e desafio”.
Lucas Oliveira Rosário, 30 anos, cursando Som, Imagem e Movimento
“O Reverbera me ajudou muito na questão do improviso e de me soltar mais. Antes eu era muito tímido, no quesito de experimentar sons e possibilidades. O momento mais legal para mim é quando a gente faz os filmes e improvisação livre. Eu gosto bastante dessa parte”.
Rafael Portugal de Oliveira, 23 anos, 4º semestre do curso de Som, Imagem e Movimento
“Já fiz experimentações no teclado e atualmente sou da percussão do Reverbera. Além disso, o projeto ainda me dá a oportunidade de produzir e editar vídeos. Fazer parte do projeto é muito legal, pois acrescenta bastante na minha formação. Eu gosto muito dos ensaios, mas acho que a parte mais legal é antes da apresentação, na montagem antes das apresentações, pois podemos aprender, conhecer sobre os instrumentos e seu manuseio e como se portar durante a apresentação”.
Alice Coelho de Souza, 21 anos, penúltimo período de Bacharel em Artes
“Estou no último semestre da Universidade e dentro do Reverbera, atuo na área de percussão. É muito bom, porque estou me descobrindo com a improvisação. Aqui, a gente não necessariamente precisa saber o instrumento para fazer a coisa acontecer”.
Matheus Menezes Brito, bacharelando no curso Interdisciplinar de Artes (BIArtes) na UFSB
“Minha função no Reverbera é documentar os ensaios, cuidar das redes sociais e divulgar o projeto, que é único e ímpar. Poucas pessoas fazem isso no meio artístico. Trazer o som ao vivo criando trilhas sonoras é algo que impressiona. Quando entrevisto as pessoas elas dizem ‘eu me senti como se fizesse até parte do filme, senti algo especial, nunca tinha presenciado isso antes’. É diferente principalmente para a nossa geração que já nasceu tecnológica. O que mais gosto é documentar em fotos e vídeos e o aprendizado que tenho com a professora Ariane, um aprendizado ‘in loco’ que diferencia do que estudo. Estar junto do grupo, poder vivenciar esses momentos é muito bom”.
Gabriel Santana dos Santos, 21 anos, estudante de Jornalismo da UFSB