Como indicativos de que o tema segue atual, o professor destaca as passeatas que plagiam as “Marchas da Família com Deus pela Liberdade” e as manifestações com exigências da reedição do Ato Institucional n. 5. O interesse da imprensa pelas divisões políticas nas Forças Armadas, o emprego de militares em cargos civis para pretensamente supervisionar os processos decisórios do Estado e a recuperação do protagonismo político por generais também revelam que os termos de negociação da Nova República foram postos em xeque novamente.
Ponto alto neste livro são as discussões sobre o nível de militarização da administração pública e dos aparelhos de Estado em geral. Examinando a composição da burocracia, evidencia uma tese importante sobre o regime militar: as Forças Armadas não se apropriaram diretamente de funções de mando que envolvessem política financeira e econômica. O insulamento burocrático foi mantido não para isolar as áreas de excelência da esfera do clientelismo partidário, mas para blindar as atividades técnicas de forma que o governo militar não perdesse os quadros de excelência ou a capacidade técnica já instalada na burocracia pública. Ainda segundo suas evidências, fica explícito que as áreas mais poupadas da militarização foram os ministérios econômicos e que as áreas mais acionadas como recurso de poder militar estavam ligadas aos setores de comunicação e de informação.
Maria Celina D’Araujo, cientista política, professora de graduação e pós-graduação na PUC do Rio de Janeiro, no prefácio da obra
Ao percorrerem desde a véspera do golpe, seu desenrolar, passando pelo fechamento do regime até as relações dos militares com as políticas econômicas, os nove ensaios contidos no livro tratam da relação do governo ditatorial com a dinâmica do sistema político brasileiro. Segundo Codato, a insurreição de 1964 marcou a história do Brasil e criou a necessidade de repensar a política desde então.
Ditadura Militar – Nove Ensaios sobre a Política Brasileira trata de temas passados, mas que são surpreendentemente atuais. É um convite à reflexão sobre os posicionamentos perante o enfraquecimento de democracias em todos os cantos do globo. Ao dedicar-se para analisar com atenção o período de transição, o autor questiona se os militares realmente voltaram aos quartéis ou se foram expulsos da política e destaca que as bases democráticas construídas a partir deste momento já nasceram defasadas e seguem até hoje se pautando pelo déficit de cidadania.