O antigo leito da estrada vem sendo utilizado como rota de cicloturismo
O Vale do Jequitinhonha, poderá receber investimentos para a reativação da linha ferroviária Bahia-Minas destinada ao transporte de cargas e turismo. A antiga estrada foi desativada em 1966.
Nesta terça-feira (07/02) o Diário Oficial da União, publicou deliberação da diretoria colegiada da Agência Nacional de Transportes Terrestres(ANTT), aprovando a celebração de Contrato de Adesão, para conceder, por meio de autorização, a construção e exploração de uma estrada de ferro localizada entre Caravelas (BA) e Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha (MG), pelo prazo de 98 (noventa e oito) anos. A medida é objeto do requerimento da empresa Porto Caravelas MTC Construção e Administração Portuária SPE Ltda.
A deliberação foi assinada por Rafael Vitale Rodrigues, diretor-geral da ANTT.
Caso se torne realidade, os investimentos poderão beneficiar os seguintes municípios: Araçuaí, Novo Cruzeiro, Teófilo Otoni, Carlos Chagas,Nanuque, Aimorés, em Minas Gerais , além de Argolo, Posto da Mata,Teixeira de Freitas e Caravelas, na Bahia.
“A celebração do contrato de adesão é o nosso ponto de partida. Temos o prazo de 30 dias para assinar este contrato com o Ministério de Infraestrutura Brasileira de Transportes. A partir dai, podemos iniciar os projetos de engenharia e de licenciamento ambiental pertinentes à construção da ferrovia”- informou Fernando Cabral, diretor da Multimodal Caravelas S.A, prevendo que esta etapa deverá durar em torno de 2 anos.
A ferrovia será construída seguindo o antigo leito da Bahia-Minas, totalizando 491 km de Araçuaí a Caravelas, com investimentos estimados em R$ 12 bilhões.
Projeto da Petrocity também prevê construção de ferrovia no Vale
Em outubro do ano passado, o Governo de Minas assinou protocolo de intenções com a Petrocity Ferrovias para que o grupo invista R$ 16,8 bilhões no estado, voltados à construção de três ferrovias que passam por Minas, em um total de 2.068 quilômetros de extensão. Os trechos vão ligar Goiás e o Distrito Federal ao porto da empresa, que será construído na cidade de São Mateus (ES).
O complexo ferroviário deverá se tornar um dos mais importantes ramais logísticos do país para importação e exportação de produtos.
Ao todo serão três trechos percorrendo 62 cidades, 40 delas em Minas Gerais. O principal ramal será a Estrada de Ferro Juscelino Kubitschek (EFJK), que vai ligar Brasília a São Mateus, passando por Montes Claros, com 1.310 quilômetros de extensão. Esse trecho irá permitir o transporte por regiões não atendidas atualmente pelo modal ferroviário e que possuem baixos indicadores de desenvolvimento, como as regiões dos vales do Jequitinhonha, do Mucuri e do Rio Doce.
O projeto possibilitará o escoamento da produção de blocos de rochas ornamentais(granito) produzidas nessa região, atualmente feito por carretas, o que diminuirá os custos de transporte além de desafogar as estradas da locais. Vale também destacar a proximidade com a região com depósitos de lítio no entorno de Araçuaí, o vale do lítio brasileiro e do Vale das Cancelas, onde foi descoberta uma grande mina de minério de ferro,atingindo os municípios de Salinas, Josenópolis, Fruta de Leite e Padre Carvalho e Grão Mogol. De acordo com o Estado, a empresa responsável , cujo capital é chinês, pretende viabilizar a extração e transformação de minério de ferro de baixo teor em um produto de alta qualidade para o mercado, que será escoado para o município de Ilhéus, na Bahia.
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Fernando Passalio, ressalta a importância do investimento na expansão de novas ferrovias“ o que amplia o escoamento das nossas riquezas diversas. Esse investimento em três novas ferrovias possibilita, ainda mais, a atração de novos investimentos para o estado, além da criação de novas oportunidades de trabalho para os mineiros”- disse o secretário.
Os outros dois trechos serão a Estrada de Ferro Vitória Minas (EFMES), de Barra de São Francisco (ES) a Ipatinga (MG), com 243 quilômetros de extensão; e a Estrada de Ferro Planalto Central (EFPC), de Unaí (MG) a Mara Rosa (GO), com 422 quilômetros de extensão.
Inauguração da estação ferroviária da Bahia-Minas em Araçuaí, em 1942.
Um pouco da história da Baiminas
A Baiminas, como moradores se referem à linha, foi inaugurada em 1881 e desativada em 1966. Seus 578 quilômetros ligaram o Jequitinhonha ao Atlântico, de Araçuaí a Ponta de Areia, onde os trilhos desembocavam num porto que recebia navios da costa do Sudeste. O sertão se tornou parceiro comercial de grandes centros. Mas não foi só por isso que a ferrovia se tornou um marco na economia.
Antiga estação de Novo Cruzeiro, inaugurada em 1924, está hoje restaurada .
À medida que os trilhos avançavam, povoados e cidades eram fundados. Foi assim que a ferrovia atraiu aportes, fomentou a geração de empregos e estimulou o plantio em terras até então inóspitas. O progresso puxado pela maria-fumaça é descrito por vários pesquisadores. Jaime Gomes, autor de Um trem passou em minha vida, destacou que “milhares de pessoas se deslocaram para aquela região. (…) Montaram engenhos, serrarias e olarias; fundaram vilas, povoados e até cidades. Parte do Sul baiano e do Nordeste mineiro prosperaram, milagrosamente”.
Mas a má gestão, a corrupção e a precipitada decisão do governo militar de apostar no avanço das rodovias, em detrimento das estradas de ferro, decretaram o fim da linha. Em muitas cidades e povoados o progresso foi embora. A última viagem da Maria Fumaça completará 56 anos em maio de 2023.