Diálogo permanente, respeito e valorização da cultura e dos direitos indígenas são necessários para a construção do relacionamento
Ao decidir, na década de 90, instalar a fábrica de celulose numa região com forte presença de tribos Pataxó e Tupinambá, a direção da Veracel tinha poucas informações sobre como lidar com essas comunidades. “Não existe uma fórmula pronta para estabelecer relacionamentos e a construção de um bom relacionamento é fundamental para a operação de qualquer empreendimento”, avalia Eunice Britto, delegada de Direitos Humanos do CNDH (Conselho Nacional de Direitos Humanos) e consultora da Veracel.
Regidos por uma legislação própria, a consultora aponta que ao entenderem as peculiaridades e necessidades das comunidades indígenas, as empresas dão um grande passo para uma convivência pacífica. “Relações com comunidades tradicionais vão além da instalação de projetos sociais, condicionantes de licenciamentos ambientais e princípios norteadores de certificações. Os índios querem que sua cultura e seus direitos sejam respeitados. Do contrário, é certo ter conflito”, alerta Eunice.
Ao longo dos anos, a Veracel conseguiu estabelecer o diálogo e a manutenção contínua desse relacionamento. “Credibilidade e confiança se conquistam com o tempo”, diz Renato Carneiro, diretor de Sustentabilidade e Relações Corporativas. Ele conta que no começo os índios enxergavam a empresa como um invasor no território, mas esse cenário foi mudando aos poucos quando a Veracel estruturou a forma de interagir com eles. “Fizemos um mapeamento das aldeias, identificamos os líderes de cada uma delas e começamos a dialogar, buscando uma relação íntegra, transparente e ética. No momento em que você cria essa identificação e eles percebem que a alta gestão está comprometida e aberta ao diálogo, essa situação muda”, avalia.
Necessidades específicas – Na área onde a Veracel atua existem cerca de 25 mil índios que são reconhecidos ou se reconhecem como indígenas. São 29 aldeias pataxó e três aldeias tupinambá, duas comunidades bastante expressivas que demandam uma série de necessidades, como educação, serviços de saúde, assistência na agricultura, entre outras, que nem sempre são atendidas pelo Estado.
Nos últimos cinco anos, a Veracel investiu mais de R$ 3 milhões em ações junto às comunidades indígenas. São investimentos direcionados para a reforma, melhorias e construção de escolas, bem como doação de computadores e material escolar (só em 2019 foram doados 5 mil conjuntos de material escolar exigidos pelas escolas). “São iniciativas que ajudam a diminuir despesas das famílias com aquisição de material escolar e a reduzir inclusive a evasão escolar, porque a criança se sente mais motivada tendo acesso aos recursos didáticos”, enfatiza Carneiro.
Promoção de saneamento básico das aldeias e incentivos à preservação e ao resgate da cultura destas comunidades tradicionais, como instalação de kijemes (centros culturais) e apoio aos Jogos Indígenas, também estão no escopo de investimentos da empresa.
Outra linha de ação é voltada para as atividades agrícolas. “Apoiamos projetos de irrigação nas comunidades; instalação de hortas comunitárias; viveiro para produção de mudas; projetos de fruticultura, piscicultura, entre outros”, enumera o diretor.