Agora, George Alves está preso, acusado de estuprar, agredir e queimar o filho e o enteado ainda vivos, em Linhares. A esposa dele e mãe das crianças também está presa por omissão.
Após a morte dos irmãos Kauã, de 6 anos, e Joaquim, de 3, o pastor George Alves, acusado de estuprar, agredir e queimar os meninos ainda vivos, fez uma série de ações que chamaram a atenção diante do caso. Um dia depois, ele pregou exaltado em um culto, chorou em entrevista à imprensa, fez uma foto sorrindo ao lado da esposa e do outro filho, e saiu para lanchar com amigos, no Espírito Santo.
Os irmãos Kauã e Joaquim, de 6 e 3 anos, morreram carbonizados em um incêndio em Linhares, no dia 21 de abril. Para a polícia, George Alves, padrasto de Kauã e pai de Joaquim, foi responsável pelas mortes. Ele foi preso no dia 28 de abril.
A defesa do pastor diz que a perícia será contestada, que o casal é “vítima de uma tragédia” e que a acusação “usa a mídia” para criar uma “culpa inexistente”.
Veja o que fez George depois das mortes, antes de ser preso:
Culto exaltado
O culto na Igreja Batista Vida e Paz de Linhares, onde George era pastor, aconteceu no dia 22 de abril. Na ocasião, ele pulava e gritava sobre o caso do filho e enteado.
“Nosso pastor falou que eu preciso de um tempo pra refrescar minha cabeça. O negócio é o seguinte, Jesus. Como é que eu vou descansar? […] Estou andando de um lado para o outro, pensando: ‘Deus, como eu vou usar isso que o senhor fez pra ganhar multidões para o Senhor? Como é que nós vamos ganhar essa cidade para o Senhor?’”, disse exaltado.
Selfie sorrindo
Um dia depois do incêndio, o pastor e a mulher dele, mãe das crianças, tiraram uma foto sorrindo no elevador do hotel onde estavam hospedados em Linhares.
Segundo a Justiça, a foto foi tirada antes do casal seguir para Vitória reconhecer os corpos das crianças.
Foi à lanchonete com a esposa, o filho mais novo e amigos
Imagens das câmeras de segurança de uma lanchonete em Linhares mostram o pastor, a esposa e o filho mais novo, no local, menos de 24 horas depois do incêndio.
A família estava acompanhada de vários amigos. Nas imagens, o pastor aparece com os dois pés enfaixados e mancando, ao caminhar.
Chorou em entrevista à imprensa
Na primeira entrevista concedida à imprensa, no dia 23 de abril, George chorou e contou que tentou salvar as crianças pelo menos três vezes. Ele também disse que a família estava se apegando à fé para enfrentar a perda e que o mundo precisava mais de Deus.
Ao lado da esposa, ele chorou e disse que tentou salvar as crianças. “Por volta de umas 2h da manhã, escutei a babá eletrônica, os gritos deles, vi o fogo muito grande [através da babá eletrônica], corri desesperado, e a casa já não tinha energia. Eu empurrei a porta do quarto deles, que estava entreaberta, eu só havia encostado por causa do ar condicionado, entrei. Quando entrei, escutei os choros deles, a gritaria, eles gritando ‘pai, pai’. Pus a mão na cama, queimei as mãos, não consegui pegar”.
‘Bolha no pé’
Depois do incêndio, o pastor foi visto com os dois pés enfaixados, mas o laudo da polícia, que consta no inquérito, apontou que ele tinha queimadura leve em apenas um dos pés.
Versão de George: “[…] Pus a mão na cama, queimei as minhas mãos, não consegui pegar [as crianças]. Eu não consegui, estava muito quente, eu queimei os meus pés, as minhas mãos”.
Corpo de Bombeiros: “Ele falou que colocou as mãos na cama. Se o fogo passou do ar-condicionado para a cama e a cama estava queimando, como ele colocou as mãos na cama? E a mão dele não tinha nenhuma queimadura. […] Ele já tinha raspado o cabelo, possivelmente para esconder que o cabelo não havia sido queimado. Mas ele não tinha nenhuma queimadura no rosto, barba farta”, disse o tenente coronel Ferrari, que participou das investigações.
Mãe das crianças
A mãe dos meninos, a pastora Juliana Sales, também foi presa por omissão no caso da morte dos filhos. No dia do incêndio, a mãe disse que estava em um congresso em Minas Gerais com o filho mais novo do casal.
Segundo a decisão da Justiça, Juliana sabia dos “supostos abusos sexuais” sofridos pelos filhos e ela e o marido tinham planos de usar a morte das crianças como forma de ganhar notoriedade e ascensão religiosa.
A Justiça autorizou para que Juliana Sales seja transferida de Minas Gerais para um presídio no Espírito Santo, mas ainda não há uma data definida para isso.
Fonte: G1