Policial, que respondia a processo pelo homicídio em liberdade, foi baleado por outro agente e preso em flagrante após assaltos, na sexta-feira. Suspeito está internado sob custódia no HGE.
O cabo da Polícia Militar Jesimiel da Silva Resende, de 42 anos, que foi preso em Salvador por roubar pedestres no bairro da Boca do Rio, na sexta-feira (6), é suspeito de envolvimento na morte do jovem Geovane Santana Mascarenhas, de 22 anos, que foi decapitado e carbonizado, no ano de 2014, e, conforme decisão judicial, deve ir, junto com outros seis policiais, à júri popular pelo homicídio.
Jesimiel, que é lotado na 98ª Companhia Independente da Polícia MIlitar, em Ipirá, a cerca de 200 km de Salvador, e que respondia ao processo pela morte de Geovane em liberdade, foi preso em flagrante na Rua João José Rescala, no Imbuí, após cometer os assaltos.
Segundo a PM, com ele, foram apreendidos um revólver calibre 38, três aparelhos celulares pertencentes às vítimas, além de uma motocicleta com placa clonada e R$ 300. O policial que prendeu Jesimiel e as vítimas foram conduzidas para a 9ª Delegacia, onde o crime foi registrado.
Ainda de acordo com a PM, o suspeito foi baleado por outro policial, que estava em um carro oficial e disse ter presenciado um dos roubos praticados por Jesimiel, após ele ter reagido à abordagem. O cabo foi atingido na perna esquerda, socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e levado para o Hospital Geral do Estado (HGE), onde permanece internado sob custódia.
A PM divulgou, neste sábado, que a Corregedoria da Polícia Militar irá instaurar um Processo Administrativo Disciplinar concomitantemente com a apuração na esfera criminal para investigar o cabo Jesimiel após a prisão dele em flagrante.
Em setembro de 2017, Jesimiel da Silva Resende também foi baleado durante uma tentativa de assalto, na região do bairro de Bom Juá, na capital baiana. Na ocasião, no entanto, ele foi a vítima. O policial foi abordado por dois homens em um carro. Conforme a PM, durante a ação, os criminosos atiraram no soldado e, em seguida, fugiram.
Caso Geovane
Além de Jesimiel, os outros policiais que devem ir à júri popular pela morte de Geovane Mascarenhas são: o subtenente Cláudio Bonfim Borges, o sargento Daniel Pereira de Souza Santos, e os soldados Roberto Santos de Oliveira, Alan Moraes Galiza dos Santos, Alex Santos Caetano e Jailson Gomes Oliveira.
Outros 4 policiais denunciados pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) pelo crime foram inocentados por decisão da juíza Gelzi Maria Almeida de Souza, do 1º Juízo da 1ª Vara do Júri. A decisão foi divulgada no Diário Eletrônico da Justiça de 23 de março.
Geovane foi encontrado morto no dia 3 de agosto de 2014, no Parque São Bartolomeu, em Salvador, um dia após desaparecer durante uma abordagem policial. O corpo do rapaz estava sem a cabeça, foi carbonizado e teve duas tatuagens e os órgãos genitais removidas. Imagens de câmeras de segurança registraram a ação dos policiais durante a abordagem.
Na época do crime, chegaram a ser presos Jesimiel da Silva, Cláudio Bonfim Borges e Jailson Gomes de Oliveira. Os PMs ficaram detidos no Batalhão de Choque da PM, em Lauro de Freitas, região metropolitana da capital baiana, por 60 dias, quando chegou ao fim a prisão provisória.
Em depoimento à época, os PMs afirmaram que o rapaz foi abordado por ter características semelhantes às de um assaltante que teria roubado uma mulher na região da Calçada. Eles sustentaram que levaram Geovane até a mulher, mas ela não o reconheceu como o ladrão e depois disso ele teria sido liberado.
GPS danificado e contradições
Segundo o delegado Jorge Figueiredo, que esteve à frente das investigações, foram solicitadas as informações registradas pelo GPS instalado na viatura, assim como os dados de todas as viaturas empregadas nas escalas de serviços dos dias 2 e 3 de agosto de 2014 e também os nomes de todos os policiais militares que trabalharam nos dois dias. A partir daí, segundo a polícia, foi possível identificar a participação dos outros policiais no crime.
Conforme o DHPP, uma perícia realizada pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT) identificou que a fiação do aparelho GPS da viatura comandada pelo subtenente Claudio havia sido danificada. Com isso, só seria possível verificar o percurso realizado pelo veículo por meio das coordenadas registradas pelo GPS do rádio HT – de comunicação entre viaturas policiais e a Central de Polícia – que não sofreu nenhum tipo de dano.
Com a análise das coordenadas obtidas no equipamento, os investigadores disseram ser possível determinar que a guarnição do subtenente Cláudio encontrou-se com a guarnição formada pelo sargento Gilson e pelos soldados Claudio Cezar, Fábio e Jocenilton, todos a bordo da viatura na Rua Luiz Maria, entre as 17h21min e 17h35min.
Segundo o DHPP, inicialmente, Gilson, Claudio Cézar, Fábio e Jocenilton afirmaram não ter tido nenhum contato com a primeira guarnição, mas voltaram atrás em nova declaração feita um mês depois. No segundo depoimento, eles informaram ter encontrado rapidamente os colegas, apenas para informar ao subtenente a liberação de um deles, que sairia mais cedo do trabalho. O DHPP afirmou que o GPS das viaturas também registrou o deslocamento das duas guarnições de volta à base da Rondesp/BTS, com 7 minutos de diferença.
Ainda conforme o DHPP, o relatório do GPS das viaturas comprovaram que os veículos estiveram na Travessa São Rafael, próximo ao Parque de São Bartolomeu, e no Parque Tecal, no bairro de Campinas de Pirajá, locais onde os restos mortais de Giovane foram deixados, entre 21h e 22h, na mesma noite em que ele desapareceu, após a abordagem.
Por fim, o DHHP afirma que um relatório de serviço, que descreve as atividades desenvolvidas pelas guarnições durante os plantões, assinado pelo subtenente Claudio, entre às 19h do dia 2 até as 2h do dia 3, registra rotas totalmente distintas das obtidas pelo GPS. Em nenhum momento, segundo os investigadores, é citada a mudança de rota das guarnições, que afirmaram ter trafegado apenas em localidades na região da Liberdade, IAPI e Pau Miúdo.
Fonte: G1