Hospital tem quase 30 bebês mortos em três meses e mães denunciam
Casos aconteceram no Hospital Infantil de Vila Velha, o Himaba. Direção alega que taxa de mortalidade diminuiu. As mães relatam mofo, lixo e infiltrações na maternidade.
A UTI-neonatal do Hospital Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba), conhecido como Hospital Infantil de Vila Velha, registrou quase 30 mortes de bebês prematuros em três meses.
A maior parte dos óbitos, segundo o Sindicato dos Trabalhadores da Saúde do Espírito Santo, foi por infecção generalizada.
Mães que perderam filhos registraram fotos de paredes mofadas, lixeiras cheias e infiltrações no teto nas dependências da maternidade.
Apesar das denúncias, a direção do hospital alega que houve redução na taxa de mortalidade.
Mortes
O sindicato considera o número de mortes alto e está preparando um dossiê para enviar para diversas entidades nacionais e internacionais, incluindo a Unicef. Segundo o diretor de comunicação do SindiSaúde, Valdecir Nascimento, entre os dias 6 de outubro e 22 de dezembro de 2017, foram quase 30 mortes de bebês prematuros.
Em relação a estes números, a direção do Himaba diz que de outubro de 2016 a janeiro de 2017 foram registradas 83 altas e 14 óbitos, gerando uma taxa de mortalidade de 16,87%. Já no período compreendido entre outubro de 2017 e janeiro de 2018 foram 207 altas e 26 mortes, gerando uma taxa de 12,56%, que é menor que a anterior.
Questionado sobre a taxa de mortalidade do hospital, o sindicato disse que contesta os números apresentados pela diretoria do Himaba, no entanto, informou que ainda não teve acesso aos dados comparativos entre os anos. Valdecir fez outras denúncias e disse que o sindicato quer uma auditoria externa no hospital.
“Infecção generalizada é a maior parte da causas de mortes. Isso ocorre por uma série de coisas, manuseio, falta de luva, falta de medicamento para combater aquela bactéria que ele adquiriu no hospital. O Estado tem que intervir”, disse Valdecir.
Sobre a denúncia de mortes por infecção generalizada, a diretora-técnica do Himaba, Patricia Helena Simões reconhece que o hospital tem um alto risco aos recém nascidos. “São pacientes que têm mais chances de morte. Muitas mães são usuárias de drogas, têm o pré-natal inadequado, têm bebês com patologias graves ou malformações, e tudo isso faz aumentar o risco de infecções”.
O diretor do sindicato também afirma que a situação piorou depois da terceirização. “Estão querendo mesmo é ganhar dinheiro, não estão nem aí para o cuidado. Por ser uma terceirização mista, tem funcionários do estado e da empresa e por isso conseguimos ter algum acesso às informações. A UTI neonatal do Himaba tinha um papel fundamental no tratamento dessas crianças”, completou.
Patricia respondeu o questionamento sobre a terceirização. “Foi falado sobre a equipe e essa equipe é a mesma que tínhamos anteriormente. Essa equipe inclusive foi acrescida. Não tivemos nenhuma alteração no funcionamento. As comissões estão funcionando. A maternidade do Himaba não fecha a porta”.
Mães
Na manhã desta terça-feira, foi conversado com algumas mães que perderam filhos recentemente no Himaba. Elas repassaram fotos feitas dentro do hospital. As imagens mostras fungos em parede e lixeira lotada, em um suposto quarto da UTI Neo-Natal. A direção do hospital reconheceu que a infiltração na parede, disse que foi provocada pela chuva e que o problema já foi resolvido. Sobre o lixo, a diretora alegou que desconhece o registro.
Bebê morreu por infecção generalizada e fungos no sangue
*os nomes das mães foram substituídos a pedido das entrevistadas.
A filha de Paula* nasceu no dia 1º de dezembro de 2017, com 38 semanas e mais de 3,5 kg. A menina nasceu com uma má formação na bexiga e precisou ser internada na UTI neonatal do Himaba para tratar de uma infecção urinária.
“Ficamos sete dias na maternidade. Ela foi para a Utin para tratar a infecção e me falaram que ela teria alta antes do natal”, contou.
Paula lembra que no período da internação deram leite com lactose para a bebê, que era intolerante. “A minha filha começou a vomitar por causa desse leite. Cheguei um dia lá de manhã e minha filha estava suja de vômito. Ela estava com uma sonda, porque não estava aceitando mamar e colocaram uma sonda para forçá-la a tomar aquele leite com lactose”, contou.
Nesse mesmo dia, ao ter acesso aos exames, Paula descobriu que a filha também nasceu com problemas no coração.
“Foi dito assim: ‘mãezinha, a sua filha vai voltar para a Utin de novo, tomar um remedinho na veia para não entupir, mas ela está estável’. Me tranquilizaram, ela voltou para a Utin, com aquele mesmo sofrimento, uma nova etapa. Ela ia embora antes do natal, abriram o exame e descobriram que ela era cardiopata. Estávamos esperando o exame para acertar o problema do coração”.
“Minha filha não nasceu com bactéria. Ela tinha estado toda suja, com uma sonda dentro dela, que já é aberto, pronto para entrar uma bactéria. Fizeram uma cirurgia nela sem a minha autorização porque disseram que era uma urgência. Botaram um catéter nela. Cheguei lá e minha filha estava sedada”, completou.
A filha de Paula morreu 44 dias depois de nascer, no dia 13 de janeiro de 2018. Ela acredita que houve negligência no atendimento do hospital.
“Deixaram minha filha uma semana com médico plantonista. Cada dia um médico diferente, sendo que ela estava em estado grave. Todos os dias eu chegava lá e falaram que ela estava em estado grave. Sobre os fungos no sangue, só me falaram um dia antes da morte dela”.
“Eu fiz a denúncia assim que ela estava em estado grave. O banco de leite estava com o teto cheio de fungos, eu filmei e mandei para o sindicato. E eles estavam com reforma dentro da Utin com os bebês lá dentro. A minha filha ficava se assustando com a furadeira, assustando os bebês”.
Bebê prematuro
O filho de Milene* nasceu no dia 26 de dezembro de 2017, após seis meses de gravidez. Por ser prematuro, o menino foi levado para a UTI neonatal para se desenvolver até que pudesse ir para casa. Mas não foi o que aconteceu.
No dia 04 de janeiro de 2018, ele morreu após pegar uma bactéria. “Ele foi direto para a Utin neonatal, fizeram uma bateria de exames e disseram que estava tudo bem. Mas como ele era prematuro, tinha os seus riscos. Mas estava tudo bem. Cada dia estava com uma médica diferente. A gente tinha que ficar indo atrás, perguntando como tinha passado à noite, se estava tudo bem. Eu ia, tirava leite, ele tomava o meu leite pela sonda”, contou Milene.
No dia que o bebê morreu, Milene tinha percebido que a criança estava muito pálida e perguntou à médica de plantão o que estava acontecendo.
“Eu vi que ele estava muito pálido e a médica disse que ele estava precisando de sangue, mas o banco não tinha mandado. Eu perguntei porque não me avisaram, porque tinha gente para doar. Ela mandou eu procurar saber onde eu poderia doar sangue. Eu fui, corri, fiquei desesperada”, disse.
Mesmo assim, não foi suficiente. O bebê morreu naquela noite. “À noite, me ligaram e disseram que meu bebê não tinha resistido, tinha dado uma parada cardiorrespiratória por causa da bactéria”, completou.
Fonte: G1