DE RAFAEL OLIVEIRA: Os enamorados

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Vez ou outra me pego observando os detalhes à volta. Quanta beleza há naquilo que ignoramos. Todo ato, todo olhar, todo gesto é maquinal. Quanta vida pra lá e pra cá, quantas buzinas dos carros impacientes, quantas histórias há em cada pedaço de calçada… 

Sinto-me triste… e por essa razão estou mais propenso em olhar ao redor. 

Sento, num parque, como quem pretende absorver da paisagem alguma poesia, mas o que vejo me distrai. Tudo em minha volta é amor em sua forma mais descarada, inclusive a mamãe pássaro que ofende quem passar por debaixo do seu ninho. 

Abro meu caderno de poemas e estou preparado para transformar minhas tristuras em versos… mas, de repente, uma mimosa criança, com o nariz todo cheio de sorvete, me cumprimenta. 

– Venha para cá, menina! Deixe o moço ler em paz – sua mãe decreta.

Por consequência daquele gesto inocente, um sorriso legítimo me escapa. 

Tento me concentrar novamente na melancolia, mas outro acontecimento me arrebata: uma mulher escuta não sei o quê de sua amiga e desperta um ataque de riso tão fervoroso que todos em volta também morrem de rir. Quando percebo, cá estou rindo também de uma mulher que nem sei o nome, mas que parece tão amiga naquele breve instante. 

Respiro novamente…

– Agora os versos hão de sair! – digo a mim mesmo.

Mas… o que é isso que os meus ouvidos fofoqueiros escutam? 

Beijinhos estalados entre declarações de amor. É um jovem casal (que senta no banco ao lado) envolto de tanta paixão que meu coração sente inveja. Tão meninos e já se amam com tanta certeza, como se o amor, desses dois pombinhos, fosse imortal. E por que não? 

Tento – mais uma vez – ignorar a beleza que me persegue, mas o rapaz diz à moça:

– O mundo, essa coisa linda que tudo tem, Deus criou em 6 dias, mas você, minha menina, Deus demorou milhares de anos e me deu.

Aquilo me atingiu como uma flecha. Como posso eu querer escrever lástimas se tudo que escuto e vejo é lindo.

A moça encantada responde:

– O meu amor para sempre é teu.

Sou tão preenchido por esse sentimento alheio que me integro num poliamor. 

– O paraíso é menos que teu abraço – diz o rapaz trêmulo de desejo.

Ainda que nós três saibamos que tudo não passa de um exagero e que provavelmente daqui uns meses eles se odiarão, não deixa de ser eterno todo amor. Afinal, daqueles carinhos, que só nós três vivemos, fui testemunha. Mas quem sou eu para ser tão pessimista? Sou apenas um intruso poeta que pretendia escrever sobre…sobre…sobre o quê mesmo? 

Texto criado por:
Rafael Oliveira
Vila Velha – ES

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