Por causa das medidas de isolamento social provocadas pelo coronavírus, festas de casamentos foram adiadas, deixando empresas e profissionais no prejuízo.
Pandemia provocou adiamento de festas na Bahia — Foto: Carlos Alberto de Oliveira/arquivo pessoal
Tradicionalmente conhecido como o mês das noivas, não haverá casamentos em maio de 2020. Graças às medidas de restrição social para tentar conter o avanço do coronavírus, noivos adiaram suas celebrações em toda a Bahia.
As remarcações, aliás, é algo que vêm acontecendo desde a segunda quinzena de março, quando foram anunciadas as primeiras ações para manter o distanciamento social.
Foi o que aconteceu com a advogada Juliana Cunha, que se casaria no dia 25 de abril e precisou adiar a festa.
“Eu já estava bem preocupada sobre a possibilidade de acontecer por causa da Covid-19, pelo movimento que a gente via ocorrendo em outros países. Quando foi baixado o decreto, eu me senti frustrada, porque já estava tudo preparado, mas eu me senti mais tranquila de ter sido uma decisão de cima para baixo”, disse.
Juliana Cunha se casaria em abril e teve que adiar a festa — Foto: Gabriel Martins
A celebração foi remarcada para o dia 25 de julho. Entretanto, Juliana acredita que também não conseguirá se casar nessa data.
“Na situação atual, eu entendo que não vai acontecer em julho. Acho que não vai acontecer antes de novembro”, afirmou.
No dia em que deveria ser realizado o casamento, Juliana mandou uma mensagem para Dora Paiva, dona da empresa que organizaria a festa. A empresária, que trabalha há 25 anos no ramo de organização de festas, conta como foi.
“Teve uma noiva [Juliana] que, no dia que seria o casamento, mandou uma mensagem perguntando se estava tudo pronto para o casamento, com uma figurinha com uma lágrima. Eu falei que estava tudo pronto nas nossas cabeças, nos nossos sonhos”, disse.
O mercado de festas foi abalado severamente durante a pandemia. De março para cá, contando com o mês de maio, Dora Paiva revela que precisou remarcar seis casamentos, isso sem contar outros tipos de celebrações.
“Há prejuízo, mas ainda não calculamos”.
Cenário diferente de outra empresária, Beth Bahiense, que já calculou um prejuízo de cerca de R$ 700 mil, entre festas que foram canceladas e negócios que não puderam ser concretizados por causa da pandemia.
“Para esse primeiro semestre, eu tinha mais de 20 eventos que foram transferidos. Poucos foram cancelados. Só dois ou três. Mas havia a iminência de fechar outros, eventos corporativos, e esses contratos não foram fechados e não serão realizados esse ano”, afirmou.
Beth é dona de uma empresa de produção de eventos e está no ramo há 22 anos. Ela começou produzindo festas infantis, mas agora foca em eventos adultos, como casamentos e eventos corporativos.
Falando especificamente sobre casórios, dez festas que seriam realizados pela empresa dela em maio foram cancelados. Somando com março e abril, o número sobe para 14.
“Nós tínhamos vários eventos e tínhamos liberado a compra de flores em São Paulo. Foi um caos, porque todo o investimento que fizemos, só em flores foram R$ 40 mil. Na segunda pela manhã, temendo a falta de mercadoria, fizemos um estoque, compramos frutos do mar, tudo necessário para a organização desses eventos, não só da semana, mas do mês inteiro de março”, disse.
Um evento do porte de um casamento movimenta um número grande de trabalhadores, a maioria deles autônomos, como garçons, floristas, carregadores, entre outros.
De acordo com Beth Bahiense, a empresa costuma movimentar mais de 150 trabalhadores em um final de semana.
É o caso de Ivan Neto, que está impossibilitado de trabalhar desde o dia 13 de março.
“Quando a festa é pequena, eu sou garçom, às vezes fico na cozinha. Quando é maior, eu fico como coordenador. Quando não tem isso, eu ajudo na decoração da festa. Eu sou três em um”, disse.
Em um mês lucrativo, Ivan chega a faturar R$ 2.500. Sem renda desde então, ele tem contado com a ajuda da família para pagar as contas.
Depois de muito tentar, ele conseguiu sacar o auxílio-emergencial do governo federal, no valor de R$ 600.
“Meu cartão, minhas contas, estou jogando para frente, deixando perder. Não posso fazer nada”, disse.
Alguns profissionais que trabalham para essas empresas têm a segurança da carteira assinada. Ainda assim, eles temem pelo futuro, como é o caso do florista Carlos Alberto de Oliveira.
“Até agora estou aguardando uma ligação para saber o que vai fazer no final do mês, como vai ficar minha situação. Os colegas estão ajeitando para receber cesta básica. Eu não posso porque tenho carteira assinada”, disse.
Profissionais autônomos foram afetados pela pandemia — Foto: Carlos Alberto de Oliveira/arquivo pessoal
Dora Paiva revela que, sem capital de giro, terá dificuldade para pagar os funcionários da empresa.
“As pessoas estão esperando para ver o que vai acontecer. Ou seja, você não tem entrada, não tem capital de giro para pagar os funcionários, então a gente não sabe o que vai fazer. A situação está cada vez mais complicada e os prejuízos são incalculáveis”, afirmou.
“A gente não pode deixar nossos funcionários sem pagamentos, mas vai tirar de onde, se não está entrando?”, questiona.
Sem destination wedding
A pandemia do coronavírus também afetou o chamado destination wedding, que são aqueles casamentos em que os noivos viajam para um lugar dos sonhos e realizam a festa com a presença de familiares e amigos.
Um dos locais mais procurados para esse tipo de evento é Trancoso, que fica no município de Porto Seguro, no sul da Bahia.
Manu Carvalho produz casamentos na região sul da Bahia — Foto: Manu Carvalho/arquivo pessoal
Manu Carvalho, que é assessora e produtora de eventos em Trancoso, conta que a região sofreu com o impacto das festas que foram transferidas.
“É triste e delicado, porque a nossa região vive basicamente do turismo. E o turismo de eventos e casamentos não é um turismo de verão e alta temporada. Ele vinha remodelando a região, fazendo com que tivesse movimento o ano inteiro. Foi um grande baque. A cidade não tem movimento nem de gente”, disse.
Manu conta que cerca de 60 casamentos que aconteceriam no mês de maio na região foram transferidos. Desses, ela trabalharia em 12.
Um desses casamentos era o dos noivos Raphaella Fiorillo de Araújo e Marcel Ramiro. A festa deles estava marcada para o dia 2 de maio.
Raphaela e Marcelo se casariam em Trancoso — Foto: Ellen Cardoso
Raphaella, que é médica, contou que desde fevereiro estava ansiosa em relação ao casamento. A confirmação de que ele não aconteceria veio um pouco depois.
“Eu estava entrando em contato com o cerimonial e perguntando sempre como estavam as coisas na Bahia, se havia muitos casos. Em um dia, foram proibidas festas com mais de cem pessoas. Isso foi antes do decreto do isolamento. Percebi que não teria jeito. Entrei em contato com os fornecedores para encontrar uma data que combinasse para todos”, disse.
Os noivos entraram em contato com fornecedores e decidiram remarcar o casamento para o dia 24 de outubro. Ainda assim, eles estão temerosos quanto à nova data.
“Estou morrendo de medo. Estou acompanhando as notícias diariamente para tentar prever alguma coisa, se estará mais tranquilo. Eu acho que, até o dia 24 de outubro, muita gente já vai ter pego a doença. Estou na esperança de um tratamento que as pessoas, mesmo pegando, não fiquem com medo de morrer”, afirmou Raphaella.
Poucos casamentos foram cancelados pelos noivos. A maioria deles foi transferido, principalmente para o segundo semestre, como explicou Manu Carvalho.
“Cerca de 25% dos noivos estão transferindo a festa para o ano que vem. O restante, para esse ano, a partir de agosto”, disse.
Uma festa para 150 pessoas costuma movimentar cerca de 200 trabalhadores, a maioria deles autônomos, que agora estão sem renda.
De acordo com Manu Carvalho, diversos serviços estão sendo afetados pelo adiamento dos casamentos durante a pandemia.
“É um grande prejuízo. Não dá para mensurar. É um prejuízo muito grande. Quando uma pessoa viaja para um destination, é muita coisa envolvida: o táxi, a hospedagem, o restaurante que deixa de receber aqueles convidados, além do casamento que deixa de acontecer”, afirmou.
Fonte: G1