CIGARROS DO “PARAGUAI”: Polícia mira ‘máfia’ do cigarro pirata em áreas de milícia

Até as 7h30, nove pessoas haviam sido presas, entre elas um PM da UPP Fazendinha e dois agentes penitenciários.

Comerciantes da região são obrigados a colocar no mercado marca Gift, a mais comercializada no Rio de Janeiro. O negócio se tornou um dos mais rentáveis para os criminosos: o lucro mensal chegaria a R$ 1,5 milhão.

Em dez meses de investigações, a polícia reuniu provas de que o fumo paraguaio tornou-se uma das principais fontes de renda do bando de Wellington da Silva Braga, o Ecko, que chefia a maior milícia do estado. Em março, carga de 500 caixas de cigarro pirata foi retida em Guaratiba.

Segundo a investigação, os milicianos do Rio, com a garantia da reserva de mercado em grandes áreas, se transformaram nos maiores fregueses do cigarro fabricado no paraguai e contrabandeado para o Rio.

O ex-PM Ronaldo Santana da Silva, preso nesta manhã, é apontado como o maior distribuidor de cigarros da Zona Oeste. Ele traz a mercadoria via Paraná e conseguiu exclusividade para vender os maços para a milícia de Ecko. Para tal, tem duas tabacarias que servem de fachada para o negócio.

Em escuta telefônica autorizada pela Justiça, Santana negocia com um fornecedor.

• Santana: Alô.
• Fornecedor: Fala, filho, é o Santana?
• Santana: Fala, meu querido! Boa tarde! Tudo bem?
• Fornecedor: O (inaudível) mandou te ligar para falar o que tem. Mas estou sem o F, cara! O F não chegou ainda! Estou sem o 01… A única coisa que eu tenho é Campeão, R7, Mix e G maço, cara! O G maço te faço por 300 merréis.

Depois, Santana fala com quem vai vender o cigarro contrabandeado na comunidade.

• Santana: Se você quiser, eu pego esse pedidozinho que você mandou de umas caixinhas, completo uma van e mando mais 100 Gifts, entendeu?
• Comprador: Faz assim, então, que fica até melhor. Porque eu vou vendendo… Aí, de repente, eu vendi e, dois dias depois, eu te peço, entendeu?

Outro integrante da organização criminosa preso é o policial militar Carlos Miranda Rangel, lotado na UPP Fazendinha. Ele é suspeito de atuar no ramo da grilagem, invadindo terrenos até em Angra dos Reis.

A quadrilha de Ecko comanda os bairros de Campo Grande e Santa Cruz, onde vive meio milhão de pessoas. Recentemente eles também se espalharam por cidades da Baixada Fluminense, como Nova Iguaçu, Seropédica e Itaguaí.

A imposição de fumo pirata é mais um ramo explorado pelos paramilitares, que controlam sinal de TV a cabo clandestino e internet, transporte alternativo, segurança privada, cestas básicas e até grilagem de terra.