Imóvel caiu horas após o homem deixar o local. Mãe dos adolescentes tinha ido ao mercado com o filho mais novo no momento do acidente.
O pai dos adolescentes de 15 anos que ficaram feridos após o desabamento de uma casa, no bairro de Plataforma, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, contou que ouviu um estalo vindo do imóvel antes de sair para trabalhar, na manhã da sexta-feira (29), horas antes do acidente.
A casa, que fica localizada na Rua Esperança, desabou por volta das 12h. Um dos meninos, identificado como Thiago, escapou a tempo e teve ferimentos leves. No entanto, o irmão dele, Lucas, foi soterrado e teve fraturas. O garoto ficou preso em um vão entre um sofá e um pedaço da laje por cerca de 2h, até ser resgatado pelo Corpo de Bombeiros Militar da Bahia. Um vídeo feito por moradores do local mostra o resgate.
Em entrevista à TV Bahia, o pai dos meninos, Raimundo Nonato, disse que saiu para trabalhar angustiado. Ele acredita que o barulho tenha sido um anúncio do que estava para ocorrer.
“Estava chovendo. Eu ouvi só um ‘tá’. Mas eu pensei que eram os pombos ficavam em cima da laje. Aí eu olhei, olhei, fiquei olhando. Daí, daqui a pouco, eu disse: ‘meu Deus, toma minha casa nas tuas mãos, Senhor’. Mas saí de casa com aquela angústia. Primeira vez que eu saí de casa com angústia na minha vida”, contou Raimundo.
No momento em que houve o desabamento, a mãe dos meninos, Daniela de Oliveira, estava no mercado com o filho mais novo do casal, identificado como Davi, de 11 anos. A cozinheira soube do acidente no momento em que estava se preparando para pagar as compras e retornar para casa.
“Meu irmão e meu genro foram lá. E eu estava no caixa já. Eles chegaram e me deram a notícia. Aí, de lá, eu já fui direto para o hospital. Peguei um na UPA [Unidade de Pronto Atendimento] e, depois, fui pegar o outro, que está internado”, explicou Daniela.
Quando a casa da família caiu, a dona da casa vizinha, que foi atingida pelos destroços, estava no imóvel com dois filhos e o neto. Rosenira de Paula conta que ficou desesperada e começou a gritar para que todos deixassem o local. A podóloga disse ainda que tentou ajudar os vizinhos, mas não deu tempo.
“Eu não sabia se eu corria, porque me fugiu tudo da mente. E eu gritava só: ‘Monique, Monique, sai de dentro de casa que a casa vai cair. Sai de dentro de casa que a casa está caindo’. Aí gritava para ela tirar Enzo. E meu filho no quarto dormindo. Daqui a pouco eu me lembrei que Marcelinho estava dormindo e comecei a gritar para ela tirar Marcelinho. Aí Marcelo acordou correndo. A gente ainda tentou ver se conseguia tirar os filhos de Daniela, mas aí a laje já tinha desabado”, falou Rosenira de Paula.
As duas famílias estão morando na casa de parentes. Elas devem receber auxílio moradia da prefeitura. Os pais dos adolescentes feridos no desabamento contam que estão preocupados com a situação.
“Eu não tenho nem muita coisa para falar. Eu preciso do Senhor e tá aí na mão de Deus”, disse Raimundo. “Eu não estou muito me importando com os bens materiais. Sim com a vida do meu filho. Mas tem que recomeçar, né. Tem que botar Deus na frente e recomeçar”, contou Daniela.
Livramento
A casa onde a família dos adolescentes morava era alugada e ficava no térreo de um prédio com dois pavimentos. Cerca de 20 dias antes do desabamento, uma outra família que morava no pavimento superior se mudou do local, após detectar rachaduras e infiltrações.
“Estava tendo infiltração na casa e a minha mãe decidiu sair. Já estava todo rachado e a gente chamou o dono da casa e para falar. A gente teve que se mudar. Foi um grande livramento de Deus mesmo”, contou a estudante Taís Conceição, que morava com a mãe do andar de cima.
A família que residia no andar de baixo também percebeu rachaduras no imóvel, segundo um parente, mas mesmo assim permaneceu no local.
“Falavam sempre que a casa já estava com rachaduras, tava com problemas, com infiltração. O inquilino de cima saiu por causa disso e tinha comentado com o proprietário do imóvel. Ele se disponibilizou a resolver o problema, só que não deu tempo”, destacou Cléber Bispo, irmão da mãe dos adolescentes feridos.
Segundo Sóstenes Macêdo, diretor da Defesa Civil de Salvador (Codesal), uma soma de fatores pode ter constribuído para o desabamento do imóvel.
“Desde uma construção feita sem a devida técnica da engenharia, somada à ausência da manutenção predial. É uma edificação que, ao que parece, já tem alguns anos de construída, e sem a sua devida manutenção, pode ocasionar este tipo de problema”, disse.
Fonte: G1